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Um sujeito que fica feliz em anunciar "você está despedido" não pode ser boa pessoa. Sempre pensei isso de Donald Trump. Menos mal que ele dizia isso para os concorrentes eliminados do seu programa de TV ("O Aprendiz"). Ainda não era no mundo real. Porém, quando ele se elegeu presidente dos Estados Unidos, passei a temer pelo pior.

Indiferente à responsabilidade de liderar a nação mais poderosa do mundo, Trump continuou a comportar-se como se estivesse à frente das câmeras. Para se eleger, construiu uma narrativa falsa com o slogan Make America Great Again ("faça a América grande outra vez") usado na sua campanha. Na verdade, Trump já começou mal: essa frase nem era dele (foi plagiada da campanha do republicano Ronald Reagan na eleição presidencial, em 1980).

Com a promessa de trazer os empregos de volta, Trump conseguiu enganar os ingênuos trabalhadores do chamado "cinturão da ferrugem" - uma região com muitas fábricas abandonadas. Essa área, localizada no nordeste dos Estados Unidos, é composta, entre outros, pelos Estados do Michigan, Minnesota, Pensilvânia e Wisconsin, que tiveram uma indústria muito desenvolvida até o século 20 e depois passaram a sofrer com o declínio da economia, desemprego, redução da população e decadência urbana.

Trump, óbvio, não conseguiu cumprir a promessa de campanha. Por ironia do destino, assim como esses Estados foram responsáveis diretos pela vitória de Trump em 2016, agora deram a vitória a Joe Biden em 2020. É difícil resistir à tentação de citar aqui a frase de Abraham Lincoln: "Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo".

Vale lembrar que os votos obtidos por Biden na Filadélfia, que definiu a sua vitória na Pensilvânia, têm um alto valor simbólico. A cidade é considerada o berço americano, pois foi lá que foi assinada a carta da Independência dos Estados Unidos e também a sua Constituição. Foi na Pensilvânia também que Lincoln proferiu o seu famoso discurso depois da vitória na batalha de Gettysburg, que foi decisiva para por fim à Guerra de Secessão.

Não cabe dúvida que esses eventos históricos moldaram a democracia norte-americana. Pode-se discutir se o atual sistema eleitoral, com escolha de delegados e não voto direto, não poderia ser melhorado. Porém, além de ser uma tradição é base da democracia americana. Quando Trump constrói a falsa narrativa de fraude e não reconhece a derrota, ele se torna uma ameaça para a própria democracia.

Com seus 70 milhões de votos, Trump está longe de se conformar em ser um "pato manco" (lame duck) da política norte-americana, ou seja, um político que continua no cargo apenas para entregar o poder ao sucessor. A demora do Partido Republicano em reconhecer a derrota é um sinal de sua influência na direita americana. Trump governou para os brancos ricos e discriminou os negros e as minorias. Biden promete governar para todos. Por enquanto, os EUA (como o Brasil) é um país dividido ao meio.

Seja como for, o resultado das eleições americanas trouxe uma lufada de ar fresco para todos aqueles que acreditam na democracia. E uma esperança de que o governo Biden represente uma mudança de posição dos EUA em questões relevantes, como o clima e a pandemia. Para nós, brasileiros, infelizmente, o grito "você está despedido" ficará trancado na garganta até 2022.

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